A favela da Serra é uma das mais populosas de Belo Horizonte e ocupa uma área de 1.5 milhão de m2. O aglomerado abriga cerca de 50.000 habitantes alojados em 15.000 casas.
O Parque da Terceira Água (ou “H3O”) é parte de uma grande obra em toda a favela, sendo considerada a maior intervenção em favela já feita no Brasil. As intervenções incluem, além da implantação do Parque, obras de urbanização de becos, construção de dezenas de blocos residenciais, erradicação de áreas de risco, recuperação de nascentes, rede de esgoto em 100% dos domicílios e implantação de rede de interceptores ao longo dos córregos e no entorno do Parque. O projeto foi criado com participação intensa da população através do programa de ouvidoria pública conhecido como Orçamento Participativo. Um dos seus pontos principais é a realocação de famílias que vivem em áreas de risco para as novas moradias do projeto, que se encontram na mesma região (ao invés de removê-las para novos assentamentos em locais distantes do centro da cidade, conforme ocorria em projetos anteriores).
O Parque H3O tem sua implantação espremida em um talvegue no meio da favela. O centro comunitário, as praças e as quadras foram todos locados sobre as pouquíssimas áreas planas das encostas do talvegue. O córrego que divide o Parque em dois, antes um esgoto a céu aberto, hoje é usado pela população como área de lazer. 800 unidades de habitação social foram construídas para abrigar a população retirada das áreas de risco ou que estavam na rota da nova avenida, construída exatamente no meio da favela. Hoje, a avenida conecta os dois bairros de classe média vizinhos (antes absolutamente separados pela favela) e provê linhas de ônibus para os moradores que, antes, levavam até 40 minutos até o ponto de ônibus mais próximo.
O Parque H3O inclui também áreas de lazer, quadras esportivas, equipamentos de ginástica, pistas de caminhada, x-park (parque de esportes radicais – não construído), jardim comunitário e o centro comunitário.
Batizado de BH Cidadania, o centro comunitário abriga cursos profissionalizantes, programas de educação ambiental, cozinha coletiva, academia de ginástica, creche, sala de brinquedos e centro de inclusão digital, além de oficinas de marcenaria e tipografia. Devido ao baixo orçamento, o conceito da edificação é simples: blocos de atividades separados por circulações e pátios internos, cobertos por um invólucro de telha metálica verde perfurada.
O prédio mantém-se aberto e acessível assim como uma praça coberta, convidativo ao usuário e integrado na paisagem existente feita de “vegetação de quintal” – bananeiras, mangueiras, goiabeiras etc.. A cobertura de metal possui diversas aberturas que enquadram a paisagem do bairro e clarabóias que garantem ventilação e luz natural devidamente amortizada.
A Praça da Academia é uma das quatro praças do Parque, que ainda conta com a Praça da Nascente, a Praça dos Brinquedos Musicais (não construída) e a Praça de Parkour (construída parcialmente). Seu principal elemento, o Muro de Atividades (o muro amarelo), reflete a estreitíssima área disponível para sua implantação (uma rara área plana que acompanha uma curva de nível); daí a concentração dos aparelhos de ginástica em um único elemento.
Construído fora do Parque H3O, o Beco São Vicente trata da ocupação estratégica de uns dos poucos espaços vazios que ainda existem entre o emaranhado de habitações que compõem o Aglomerado da Serra.
São três cilindros ao longo do Beco, sobre os quais há espaços públicos para a prática de skate, brincadeiras infantis e capoeira. O espaço interno abriga a associação das costureiras, mantendo todo o conjunto constantemente apropriado pela população local.
Cliente: Cliente: Urbel / Consórcio Camargo Correa & Santa Bárbara
Fotógrafos: Eduardo Eckenfels, Leonardo Finotti, Márcio Gibram, Pedro Meyer, Flavio Agostini, Carlos Teixeira.